Por: Beatriz Ortiz – Jornalista de ciência do projecto Biota Campos (IPA).
Com troca de conhecimentos entre Universidade de Coimbra e Instituto de Pesquisas Ambientais, cientista analisa a ecologia, a longevidade e as estratégias de adaptação das plantas presentes nos dois ambientes.
Uma missão de investigação desenvolvida em colaboração entre a Universidade de Coimbra (UC) e o Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), do Brasil, procurou estabelecer relações entre as plantas das zonas alpinas da Serra da Estrela e as do Cerrado, o segundo maior bioma brasileiro, com foco particular no Estado de São Paulo, na região sudeste do país. A missão, concluída recentemente, teve como objetivo compreender a ecologia, a longevidade e a adaptação das plantas em ambientes específicos.
Entre março e junho deste ano, a investigadora de pós-doutoramento do IPA, Cláudia Fontana, realizou um intercâmbio no Laboratório de Dendrocronologia (MedDendro) do Centro de Ecologia Funcional da UC, sob a orientação da docente do Departamento de Ciências da Vida da UC,. Cristina Nabais. Durante a estadia, Cláudia Fontana conheceu o projeto “Rede de monitorização climática e biológica no Parque Natural da Serra da Estrela: uma ferramenta para a gestão, valorização e resiliência do território” (REMONSTAR), coordenado por Susana Rodríguez, docente no mesmo Departamento. Durante o intercâmbio, a investigadora visitou as áreas de estudo na Serra da Estrela.
Cláudia Fontana desenvolve investigações na área da dendrocronologia, método científico que analisa os anéis de crescimento das plantas para determinar a sua idade e reconstruir sua história ambiental. Esta técnica permite identificar as condições do ambiente em que as plantas cresceram, bem como detetar se enfrentaram fenómenos como incêndios, pragas, geadas e secas extremas no passado. No seu projeto atual, a investigadora dedica-se especificamente à dendrocronologia de ervas perenes, arbustos e subarbustos, comuns no Cerrado, que muitas vezes escapam ao olhar da ciência, dada a predominância de estudos centrados em árvores.
Apesar das diferenças ecológicas entre as paisagens, o Cerrado paulista e as zonas alpinas da Serra da Estrela enfrentam desafios ambientais semelhantes: ambos são sujeitos a pressões climáticas severas e carecem de estudos aprofundados que apoiem a sua conservação. “São realidades distintas, mas igualmente ricas em biodiversidade e desafios”, observa Cláudia Fontana. Por isso, a missão de investigação representou uma oportunidade para discutir e integrar abordagens aplicadas em estudos sobre biomas brasileiros e ecossistemas alpinos europeus.
A parceria também representou uma oportunidade para construir pontes entre Portugal e Brasil, promovendo a troca de conhecimentos, métodos e tecnologias associadas à dendrocronologia. “Acredito que unir esforços é uma das chaves para proteger biomas tão singulares. Essa missão foi uma prova concreta de como a ciência pode transcender fronteiras, conectando pessoas e ideias em benefício do planeta”, afirma Cláudia Fontana.
Nas palavras de Cristina Nabais, “a missão de pesquisa, desenvolvida pela Dra. Cláudia Fontana no MedDendro, fortaleceu de forma inequívoca a colaboração técnico-científica entre a Universidade de Coimbra e o IPA, uma parceria que esperamos manter e aprofundar com futuras colaborações e projetos conjuntos”. O IPA é vinculado à Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (SEMIL-SP), no Brasil.
A missão foi realizada no âmbito do programa Fixação de Jovens Doutores (FJD), financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ambos do Brasil. Integra o projeto temático Biota Campos, coordenado por Giselda Durigan (IPA) e financiado pela FAPESP, que visa ampliar conhecimentos sobre a biodiversidade dos campos naturais de São Paulo e estados vizinhos e dar o embasamento científico necessário para sua conservação.