Por Beatriz Oliveira
Ser estudante universitária em Portugal, nos dias de hoje, é sinónimo de exigência, pressão e pouco tempo livre. Mas e quando, para além de tudo isso, se carrega também o peso — ou melhor, o privilégio — de fazer parte de uma banda filarmónica como a SMEB?
No compasso apertado dos dias, entre aulas e projetos académicos, muitos estudantes universitários encontram-se a viver uma realidade de escolhas. Conciliar a exigente rotina universitária com o compromisso que é a SMEB torna-se, para muitos estudantes universitários da nossa terra, numa batalha constante.
É no espaço invisível entre os ensaios e os exames, entre as pautas e o plano de estudo, que nasce uma dicotomia vivida constantemente por muitos jovens como eu. Uma escolha que, na verdade, nunca chega a ser feita de forma definitiva: o coração puxa para a música, mas a razão exige foco nos estudos. É como ter duas vidas a acontecer ao mesmo tempo.
Durante a semana, os dias são consumidos por aulas teóricas, apresentações e relatórios. Há pouco espaço para pausas. Mas chegada sexta-feira à noite, o corpo cansado transforma-se e surge um novo fôlego. O instrumento é afinado e a mente entra noutra cadência – a da música, do coletivo, da tradição.
Mas a verdade é que não é fácil. Muitas vezes um ensaio coincide com a entrega de um trabalho importante ou um concerto coincide com uma época de exames complicada. Nessas horas, a sensação é a de que qualquer escolha é uma renúncia.
A universidade exige exclusividade. A banda, compromisso. Ambas são instituições que moldam quem somos — uma no plano académico, a outra no plano humano. Cresce-se nos dois lugares, mas ao tentar dar 100% a cada um, é inevitável sentir-se a falhar em algum lado.
E, ainda assim, há algo profundamente bonito nisto. Porque a SMEB não é apenas um conjunto de músicos. É uma família. É a escola paralela onde se aprende pontualidade, espírito de equipa, resistência e humildade. Onde se sente o peso da responsabilidade, mas também o calor do aplauso sincero.
É por isso que tantos de nós insistem em continuar. Mesmo exaustos. Mesmo com o horário a rebentar pelas costuras. Porque sabemos que a música também nos forma. Que a SMEB nos dá aquilo que a universidade, por mais importante que seja, não ensina: o valor de estar presente, de tocar para os outros, de fazer parte de algo maior do que nós.
O verdadeiro desafio não está em escolher um lado. Está em conseguir equilibrar os dois, mesmo quando muitos parecem não compreender esse esforço. Talvez, um dia, tanto as instituições académicas quanto a sociedade reconheçam o valor desta entrega dupla — porque quem é capaz de dar tudo na música e no estudo, está seguramente pronto para qualquer desafio que venha a seguir.