Por Carlos Pereira

Senhor Presidente,
Na qualidade de cidadão do concelho de Seia, venho por este meio expressar a Vossa Excelência a minha profunda preocupação e indignação relativamente às alterações em curso no posto médico de Loriga.
Não é de hoje que a população da freguesia de Loriga, bem como das freguesias vizinhas, se sentem esquecidas, ignoradas e prejudicadas por decisões que, em vez de promoverem a equidade, acentuam desigualdades e injustiças. A recente criação da Unidade de Saúde Familiar (USF) “Nova Estrela”, com polo em Loriga, é mais um exemplo disso.
Esta reorganização, feita à margem das populações, dos autarcas locais e até dos próprios profissionais de saúde, teve como consequência direta o esvaziamento dos postos médicos em freguesias como Alvoco da Serra, Loriga, Sazes da Beira, Teixeira, Valezim e Vide. Longe de melhorar a acessibilidade, a eficiência ou a qualidade dos serviços, esta medida agravou os problemas existentes.
Pior ainda, utentes do posto médico de Loriga foram transferidos para uma unidade em Seia, sem lhes ser garantido médico de família, obrigando-os a percorrer o dobro da distância que percorriam anteriormente, como é o caso de residentes em Sazes da Beira e Valezim. Além disso, foram retirados dois profissionais de saúde (um médico e um enfermeiro) da unidade de Loriga, bem como equipamentos e mobiliário, para “compor” as novas instalações na sede do concelho. Tudo isto, aparentemente, com a sua conivência.
Em vez de se investir na criação de uma nova unidade, teria sido mais sensato e justo requalificar e melhorar as infraestruturas já existentes no posto médico local. Um investimento sério nas condições físicas e humanas teria reforçado os cuidados de proximidade e contribuído verdadeiramente para a coesão territorial.
Um Presidente que não luta, ou não quer lutar, pela continuidade dos serviços públicos nas freguesias mais afastadas da sede do concelho, não está a cumprir o seu dever. Isto não é reorganização. É desmantelamento. É retrocesso. É abandono. É dificultar a vida de quem vive nas zonas periféricas do concelho, precisamente aquelas que Vossa Excelência tem o dever moral de representar.
É esta a coesão territorial que tanto se apregoa? É assim que se valoriza o interior? Com decisões administrativas tomadas em gabinetes, sem ouvir quem vive e sente o território todos os dias? É com medidas destas que querem atrair e fixar pessoas no interior?
Ou toda esta reorganização é o primeiro passo para, num futuro próximo, acabar com a extensão de saúde de Loriga?
As freguesias mencionadas são parte integrante do concelho para o qual o sr. Presidente foi democraticamente eleito para as defender, proteger, valorizar as terras e as suas gentes. São terras com história, com gente resiliente, com uma população envelhecida mas determinada a viver com dignidade. Afastar os cuidados de saúde primários destas comunidades é uma ferida aberta no sentimento de justiça, de futuro. É uma decisão que ofende, que entristece, que divide e, acima de tudo, que revolta.
Não exigimos luxo, nem privilégios. Exigimos apenas o essencial, acesso justo à saúde, proximidade no cuidado, e respeito pelas nossas gentes.
Deixo aqui o meu repúdio, mas sobretudo a minha mágoa. Porque acreditei que a Câmara Municipal deveria ser a primeira a proteger todas as freguesias do concelho e não a fechar os olhos quando elas são prejudicadas.
Ainda assim, mantenho a esperança de que estas decisões possam ser revistas. E que a voz das freguesias mais afastadas do centro não continuem a ser tratadas como um eco distante.
Com respeito, mas também com tristeza,
Carlos Pereira



