E pronto. Votou-se. Fecharam-se as urnas, contaram-se os votos, por isso vamos ao que interessa: a crónica fria da queda da esquerda.
Comecemos pelo novo inquilino da Assembleia: o JPP, partido regional da Madeira, aproveitou o descalabro do PS local e garantiu um deputado. O PAN sobreviveu por pouco: 80 mil votos, menos 45 mil do que em 2014. Mais um bocadinho e passava a dedicar-se exclusivamente à proteção das espécies parlamentares em vias de extinção — a começar por si próprio. O BE ficou reduzido a um deputado, perdendo 160 mil votos — uma sangria de 42% do seu eleitorado. Nem Louçã em TikTok os salvou, a malta jovem olhou, achou “fofo”… e votou noutro. O PCP perdeu mais 25 mil votos. Ficaram-se por três deputados — Um clássico. Ainda falam em resistência… mas contra quê? Contra a vontade do eleitor?
O Livre foi a exceção. Ganhou dois deputados e 46 mil votos. Mas se PAN, BE e PCP perderam juntos 230 mil, e o PS ainda mais, é claro: o eleitorado fartou-se. Não fugiu para a direita nem para a revolução. Foi à sua vida, que é coisa que esta esquerda já não conhece há muito. A IL ganhou um deputado e 10 mil votos. Para quem queria ser decisiva, foi um “poucochinho” dececionante.
Já o PS perdeu mais de 400 mil votos e 20 deputados. Tentaram maquilhar Pedro Nuno Santos como um líder sereno e ponderado — uma espécie de santo laico em estado de meditação profunda. Mas quando se força tanto a pose, tropeça-se no próprio teatro. E pior: em vez de deixarem o governo governar, apressaram-se a puxar-lhe o tapete mal cheiraram oportunidade. O povo viu o truque, enjoou da peça… e saiu da sala.
E o Chega? Cresceu 175 mil votos. Diabolizado por todos, tornou-se impossível de ignorar. Está à porta do poder. Se continuarem a fingir que não existe, em breve estará a tomar o pequeno-almoço no Conselho de Ministros.
A AD venceu, sim — com mais 100 mil votos. Mas ninguém lhe chamará uma vitória esmagadora. Uma vitória de Montenegro, mais do que do seu programa. É suficiente para governar? Sim, até porque a conjuntura política assim o exige. A AD tem margem para governar e a conjuntura ajuda — mas o verdadeiro teste será político, não matemático. O Chega pressiona à direita, o PS espreita à esquerda, e o povo, esse, está farto de ser arrastado por birras partidárias e jogadas táticas. Quer soluções. E se não as tiver, já mostrou que sabe a quem entregar a fatura.
Em Seia, a AD venceu com 36,29% dos votos — 799 a mais do que o PS, que ficou pelos 29,80%. Um sinal claro de desgaste socialista. Se recuarmos às últimas autárquicas, o PS teve apenas mais 172 votos que a soma de PSD + JPNT. Há base para acreditar numa viragem nas próximas eleições autárquicas.
Há sinais de movimento e gente no terreno. É importante, mas não suficiente. O PS continua com a máquina bem oleada e raízes profundas. Para haver mudança, é preciso mais do que boas intenções — se houver trabalho, escuta ativa e proximidade verdadeira, talvez a esperança deixe de ser desejo… e passe, finalmente, a ser realidade.





